MUITO AINDA A CONQUISTAR
Em ‘Capítulo 4, Versículo 3’, uma das 12 faixas que compõem o álbum ‘Sobrevivendo no Inferno’, lançado pelos Racionais MCs em 1997, o convidado Primo Preto lista uma série de estatísticas para denunciar o racismo praticado contra os negros em São Paulo. De acordo com a letra, naquela época, 60% dos jovens da periferia sem antecedentes criminais já haviam sido vítimas de algum tipo de violência policial; a cada quatro pessoas mortas pela polícia, três eram negras; a cada quatro horas, um jovem negro morria violentamente na capital do Estado; e somente 2% dos alunos das universidades brasileiras eram negros.
Passados 21 anos, pouca coisa mudou no cotidiano dessa parcela da população. De acordo com o Infopen, Sistema Integrado de Informações Penitenciárias, 64% dos presos no sistema penitenciário nacional são negros. As informações se baseiam em dados que correspondem a 72% da população prisional total – cerca de 493 mil pessoas –, disponíveis em junho de 2016.
Outro número que chama a atenção foi divulgado em 2014, por meio da pesquisa ‘A aplicação de penas e medidas alternativas no Brasil’, realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo o estudo, a Justiça Criminal é mais rigorosa com os negros do que com os brancos. Enquanto o primeiro grupo vai mais para a prisão, o segundo tem maior acesso a penas alternativas.
Além disso, o ‘Relatório Sobre o Perfil dos Réus Atendidos nas Audiências de Custódia’, elaborado em 2016 pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro, concluiu que a possibilidade de um branco preso em flagrante ser solto ao ser apresentado ao juiz é 32% maior que a de um negro ou pardo na mesma situação.
Desemprego
Negros também são as principais vítimas do desemprego, que, em agosto, afetava 12,7 milhões de pessoas no país. Embora representem atualmente 55,7% dos brasileiros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os negros respondem por 64,2% do total de desocupados. Ainda conforme o IBGE, a participação de pretos e pardos na estatística cresce desde o início da série, iniciada em 2012.
Na região metropolitana de São Paulo, a taxa desemprego em 2017 entre os negros (20,8%) era maior do que a verificada entre os brancos (15,9%). Além disso, eles receberam, em média, 69,3% do rendimento dos não negros no período.
Outra pesquisa realizada no ano anterior pelo Instituto Ethos apontava que os negros ocupavam 6,3% dos cargos de gerência, 4,9% dos cargos em conselhos de administração e apenas 4,7% dos quadros executivos.
Representação
A representação no parlamento também reflete o racismo brasileiro. Em 2015, apenas 4,3% dos deputados federais eleitos eram negros. O percentual correspondia a menos da metade do apurado na legislatura anterior (10%).
Foto Agência Brasil